O resgate do SINAM


"Nenhum homem é bom o bastante para governar os outros sem seu consentimento." (Abraham Lincoln) estadista americano.


Quando o jornal Estado de São Paulo, em sua edição de 24 de maio de 1998 trouxe em primeira página o lançamento do SINAM tal destaque tinha uma razão de ser. Nascia ali o único sistema de atendimento a saúde digno e ético em nosso país. Num dos cadernos, uma página inteira detalhava seu funcionamento. Esse conceituado jornal abraçou a causa e o projeto, por reconhecer sua necessidade e seu imenso alcance social. O "sistema dos médicos", como foi chamado, vinha para resgatar o relacionamento médico-paciente tão comprometido nos dias de hoje, oferecer atendimento particular a preços reduzidos, sem custos de inscrição, sem mensalidades, anuidades, doenças pré-existentes e limitação de dependentes. A participação no sistema era livre a quem desejasse. Cabia ao próprio médico, clínicas de diagnose e terapia, o controle da qualidade do atendimento. Um simples cartão de identificação era suficiente para garantir o atendimento dos profissionais cadastrados. Estes, mediante o valor de uma consulta, no ato do cadastramento, ajudavam na manutenção do sistema. Os titulares dos usuários e seus dependentes nada pagavam para se inscreverem.

O sucesso foi imediato. Milhares de profissionais e dos interessados em participar o faziam pessoalmente, por carta, telefone ou fax. Criou-se um centro de cadastramento dentro da entidade com vários atendentes. Centenas de médicos chegaram a congestionar a sede da AMB para se inscreverem.

O lançamento oficial deu-se em Salvador, na sede da Associação Bahiana de Medicina, e logo se estendeu por todo o Brasil. Em pouco tempo, uma população de 400.000 pessoas e cerca de 18.000 profissionais estavam integrados nessa nova proposta de atendimento. Começava, finalmente, uma "revolução" na sistemática de prestação de serviços à saúde em nosso país.

Lamentavelmente, a diretoria que assumiu a Associação Médica Brasileira em outubro de 1999 "entendeu" que deveria desativar tudo o que até então havia sido concretizado. Questões políticas injustificáveis levaram a um desfecho reprovável e inconseqüente, perante uma população que acreditou na entidade maior e representativa dos médicos brasileiros. Em poucos dias, tudo havia sido desfeito, num desrespeito a vontade soberana dos médicos inscritos e de milhares de pessoas que foram abandonadas sob a alegação de "reavaliação do sistema".

Como ninguém consegue apagar o que a história escreveu, a Associação Médica do Paraná e a Associação Bahiana de Medicina resistiram a essa pressão política e mantiveram o novo sistema como foi criado, até os dias atuais. A força do SINAM mostra-se hoje em toda sua plenitude nos dois Estados. Os médicos e população não querem, nem podem mais ficar sem esse tipo de atendimento, que se expande cada vez mais.

Várias cidades do interior de São Paulo criaram Núcleos do SINAM e todos estão felizes e satisfeitos. Muitos médicos, laboratórios, e clínicas de diagnose em São Paulo continuam atendendo normalmente os que possuem cartões de identificação.

Os que "construíram mais muralhas do que pontes" insistem em não reconhecer um erro imperdoável. Evitam, a todo custo debater com os médicos esse tipo de atendimento que resgata a dignidade médica.

É chegada a hora das lideranças médicas envolvidas reverem seus conceitos e voltarem suas ações para o benefício da classe médica que trabalha duro em seus consultórios ou hospitais e de grande parte da população brasileira praticamente desassistida pelo SUS ou por não poder arcar com valores mensais altíssimos das operadoras de planos de saúde.

Tomem como exemplo o Paraná e a Bahia. Se quiserem façam uma consulta nacional honesta e séria entre os médicos brasileiros. Com certeza a maioria esmagadora estará a favor do retorno do sistema. É preciso entender que o SINAM pertence à classe médica do Brasil e não a grupos diretivos passageiros.


Dr. Antonio Celso Nunes Nassif é Doutor em Medicina. Ex.presidente da AMB

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