28/07/2022

Paranaguá, berço da civilização paranaense, completa 374 anos de história em 29 de julho

A homenagem do CRM-PR a todos os médicos e demais municípes que fazem parte dessa trajetória e também a solidariedade às famílias das vítimas da Covid-19 na cidade, que ganhou o seu Memorial

Paranaguá, berço da civilização paranaense, está comemorando 374 anos na passagem deste 29 de julho. As atividades na cidade litorânea incluem shows musicais, o festival da tainha, a inauguração do novo Arquivo Público Municipal e também a instalação do Memorial em homenagem às vítimas da Covid-19, em solenidade que ocorreu na tarde de terça-feira (26). A Cidade-Mãe do Paraná se apresenta hoje como a 10ª mais populosa, com mais de 157 mil habitantes, também se posicionando como um dos principais PIB do Estado graças, principalmente, ao terminal portuário, um dos maiores do Brasil e o principal exportador de produtos agrícolas.

Em meio aos festejos, a diretoria do Conselho Regional de Medicina do Paraná e a sua Representação Regional em Paranaguá dirigem as congratulações aos gestores e demais servidores públicos, lideranças políticas e empresariais e os munícipes de modo geral. Expressam o reconhecimento aos médicos e demais profissionais de saúde pela coragem no enfrentamento da pandemia do novo coronavírus, numa situação que fez ressurgir o drama de século e meio antes com a febre amarela. Ao mesmo tempo, expõem o respeito e solidariedade àqueles que sofreram os impactos da pandemia, em especial os familiares das 612 pessoas que perderam a vida na comunidade parnanguara.

clique para ampliarclique para ampliarVista com o mar e os casarios antigos em primeiro plano. (Foto: Arquivo)

Profissionais em atividade

Embora sem fazer arte das estatísticas das mais de 33 mil pessoas contaminadas pela Covid-19 em Paranaguá, ou mesmo das que foram a óbito, o médico Marcos Petryk Sereja (CRM-PR 33.462) fazia parte da estrutura assistencial da cidade, assim como de Guaratuba, onde indicava seu domicílio. O Dr. Marcos tinha 34 anos e faleceu em 2 de setembro de 2020 no Hospital do Rocio, em Campo Largo, depois de três semanas internado. Era, na ocasião, o 10° médico a perder a vida entre os 616 diagnosticados com a doença. Assim, a homenagem também a memória do profissional que esteve na linha de frente do combate à pandemia.

Dos registros históricos do CRM-PR, 194 médicos indicaram Paranaguá como seu domicílio. Contudo, os números atuais apontam que são 143 os profissionais residentes ativos, pela exclusão dos que faleceram ou pediram cancelamento ou transferência. Vale destacar que a inscrição dos médicos paranaenses começou em meados de 1958, com o que grande número dos que atuaram em Paranaguá até meados do século passado não aparecem nos registros. Casos de profissionais que fizeram parte da história da Santa Casa de Paranaguá, o primeiro hospital do Estado.

clique para ampliarclique para ampliarCaetano Munhoz da Rocha, médico e político. (Foto: Arquivo)

Personagens ilustres

Do grupo de pioneiros em que se reverencia a memória aparece o médico e político Caetano Munhoz da Rocha, nascido em maio de 1879 em Antonina. Formou-se pela Faculdade de Medicina da Universidade do Rio de Janeiro em 1902. Foi prefeito de Paranaguá por duas vezes, entre 1908 e 1916 e também senador durante a República Velha e foi presidente do Paraná. Faleceu em Curitiba, em abril de 1944. Assim como ele, os ilustres médicos Abdon Petit Carneiro Guimarães, um dos precursores da Pediatria no Estado, e João Evangelista Espíndola, corresponsável pela primeira cesárea em território paranaense, também inscreveram seus nomes pelo trabalho na Santa Casa.

Outro nome muito ligado às raízes da cidade e à história da Medicina do Paraná é o parnanguara Leocádio José Correia (1848-1886), de feitos relevantes em ações de saúde pública no combate às epidemias de cólera e à febre amarela, que atingiram grandes proporções na segunda metade do século XVIII. Pela historiografia local, é considerado como o principal médico que atuou em Paranaguá, cidade onde nasceu e faleceu aos 38 anos apenas. Formou-se pela Academia Nacional de Medicina (1873) e foi inspetor de saúde do Porto de Paranaguá, médico da Santa Casa, vereador e ainda deputado provincial do Paraná.

clique para ampliarclique para ampliarDr. Annibal Ribeiro Filho, médico e fundador do Centro de Letras de Paranaguá. (Foto: Arquivo)

Primeiros inscritos no CRM

Pelos registros do CRM-PR, os primeiros médicos a se inscreverem indicando a atuação em Paranaguá, muitos deles de saudosa memória, foram os Drs. Alcino Manoel Cordeiro Cortês (CRM-PR 412), nascido na Lapa (PR), em 16 de janeiro de 1922, e formado em dezembro de 1947 pela Universidade Federal do Paraná; Waldir Rudolfo Jacobs (624), curitibano nascido em novembro de 1931 e formado em 1955 pela UFPR; Eduardo Digiovanni (820), nascido em 14 de outubro de 1933, em Presidente Bernardes (SP), e formado pela UFPR em 1959; Carlos Eduardo Marcondes Lobo (1.029), nascido em Paranaguá em 11 de abril de 1935, formado em 1958 pela UFPR e que é cirurgião geral; e Annibal Ribeiro Filho (1.085), também natural de Paranaguá, onde nasceu em 7 de fevereiro de 1906, formado em 1933 pela Universidade do Rio de Janeiro e que já é falecido, nomeando uma escola local.

Ainda integram o rol de pioneiros os Drs. Zemyr Pereira Werner (1.283), parnanguara nascido em maio de 1920 e formado pela UFPR em 1948; Isami Morita (1.287), nascido em 20 de abril de 1925 em Hokkai, Japão, e formado pela UFPR em 1955; Flaherty de Oliveira Ribeiro (1.506), curitibano nascido em novembro de 1936, formado pela UFPR em 1963; Antonio Luiz Gori (1.604), nascido em fevereiro de 1938 em Botucatu (SP) e formado pela UFPR em 1964; Eduardo Marecki (1.887), ortopedista; e Beor Rodrigues de Figueiredo (1.947), anestesiologista.

clique para ampliarclique para ampliarDr. Manoel Bandolim, pioneiro da anestesiologia em Paranaguá. (Foto: Arquivo)

Outros médicos registrados entre o final dos anos 1960 e início de 1970 aparecem os Drs. Dirceu Lemes Palmeira (2.230); Daniel Ruiz (2.296); Manoel Rubens Bandolim (2.298); Helvecio Chaves da Rocha (2.369); Antonio Ortellado Figueiredo (2.700), gineco-obstetra; Hermenegildo Macario da Cruz (2.926), pediatra; Cesar Joarez Faria Branco (3.473); Telmo Pinto de Arruda (3.570); Hermenegildo Teixeira (3.583); Lúcia Arakaki Neves (3.971); e Lauber Macedo de Mattos (4.664), cardiologista já falecido.

Neste ano de 2022, dois médicos atuantes em Paranaguá figuram no rol de homenageados com o Diploma de Mérito Ético-Profissional, reconhecimento do CRM-PR àqueles que completam 50 anos de formados com histórico exemplar. Os colegas da turma de 1972 da UFPR, Drs. Cesar Joarez Faria Branco, que é especialista em Neurologia e Medicina Legal e Perícia Médica, e Telmo Pinto de Arruda, cirurgião-geral, vão receber a honraria que, em 2020, alcançou o pediatra Hermenegildo Teixeira, formado em 1970 pela Universidade Federal Fluminense.

A homenagem aos que comemoraram o Jubileu de Ouro também contemplou outros parnanguaras desde que ela foi instituída, em 1986. Entre eles estão o anestesiologista Manoel Rubens Bandolim, diplomado em 2018; Isami Morita, em 2005. O Dr. Morita formou-se em 1955 pela UFPR e, em 2008, voltou a ser homenageado pelo CRM em meio às comemorações do Centenário da Imigração Japonesa. Tinha, na ocasião, 83 anos e continuava ativo na atividade no litoral. Faleceu alguns anos depois.

clique para ampliarclique para ampliarDr. Iseu, nascido em Paranaguá, atuou na Capital. (Foto: Arquivo)

Há grandes expoentes da Medicina paranaense que são naturais de Paranaguá mas não concentraram suas carreiras na cidade litorânea. Um dos exemplos é o Dr. Iseu de Santo Elias Affonso da Costa (CRM-PR 348), um dos precursores da cirurgia cardíaca no Paraná e que presidiu a Associação Médica e a Sociedade Paranaense de Cirurgia Cardíaca, além de ter sido conselheiro do CRM e sócio-fundador da Academia Paranaense de Medicina. Nascido em 27 de outubro de 1926, ele começou seus estudos na UFPR em 1944. Porém, concluiu a formação em Medicina pela USP, em 1950. Faleceu em 4 de novembro de 2010 (Confira AQUI). O Dr. Iseu é um dos responsáveis pelo trabalho histórico “Pioneiros da Medicina do Paraná”, que tem seus painéis expostos na Sede do Conselho, em Curitiba.

O Dr. Manoel Rubens Bandolim, que tem 54 anos de formado, foi um dos fundadores do Hospital Paranaguá e da Associação Médica local, tendo atuado na antiga maternidade e na Santa Casa até o encerramento das atividades no local com a sucessão do Hospital Regional do Litoral (HRL). Na passagem do Dia do Médico do ano passado, o anestesiologista nascido em Sertanópolis (PR) concedeu entrevista para o jornal Folha do Litoral, abordando a sua trajetória e ligação com a cidade, bem como os avanços na qualidade assistencial e até sua recuperação após ter sido vítima da Covid. “A Medicina em Paranaguá evoluiu gradativamente; começou a ter um progresso, embora no começo ainda muito lento. Houve a construção do Hospital Paranaguá, em 1978. O sonho de alguns médicos e, hoje, temos esse hospital graças aos pioneiros que puseram nele seu trabalho e muito investimento”, relata num trecho da entrevista, que pode ser conferida AQUI.

clique para ampliarclique para ampliarPainel da Santa Casa na série Pioneiros. (Foto: Reprodução)

Santa Casa de Paranaguá

Um dos painéis que integram o acervo da obra “Pioneiros”, de autoria dos Drs. Iseu e Carlos Ravazzani, coloca em destaque a história da Santa Casa, que começou a ser arquitetada na primeira metade do século XIX. O primeiro espaço do hospital teria sido inaugurado em 1936. De acordo com a pesquisa, o primeiro médico a atuar no hospital provisório da Rua da Ordem foi o irlandês Guilherme Wyle, que em 1938 ofereceu-se para assistir aos enfermos com sua presença e remédios. Prestou serviços até a sua morte, em 1946.

Outros médicos que atuaram na Santa Casa foram Ricardo Killer (1850), Alexandre Bousquet (1854), Ricardo Augusto da Silva Rego, Leocádio José Correia (1874), João Evangelista Espíndola (1885), José Justino de Mello (1886), Randolpho Serzedello, Abdon Petit Carneiro Guimarães (1899), Caetano Munhoz da Rocha (1903), Belmiro Saldanha da Rocha (1908) e Roque Vernalha (1925), o primeiro médico a formado no Paraná a fixar-se em Paranaguá.

clique para ampliarclique para ampliarO segundo prédio do hospital. (Foto: Arquivo)

Como consta de seu livro “História da Medicina no Paraná - 1654-1822“, o Dr. Júlio Moreira relaciona alguns pioneiros da Medicina paranaense. Admite-se que os primeiros colonos aportados em Paranaguá fossem acompanhados de curiosos da arte de curar. “Sabe-se que os jesuítas, no seio dos índios, eram os médicos da alma e do corpo”, assinalou. O nome de João Guilhote consta em documento de 1726, em que ele se declara ser “morador da vila de Paranaguá e viver de cirurgião”. Residira anteriormente em São Paulo, onde exercia a função de “cirurgião barbeiro”, que retomou na vila, como lavrado.

A Santa Casa de Curitiba foi o segundo hospital paranaense e surgiu em 1843. Sua primeira grande missão foi acolher os pacientes da coirmã de Paranaguá, na época lotada de doentes afetados por uma epidemia de cólera.

Representação do CRM

Paranaguá conta com uma das Representações Regionais do CRM-PR, com sede virtual. O diretor é José Antonio Ferreira Martins, especialista em Clínica Médica e Cardiologia e que tem registro no Paraná desde janeiro de 2007. A vice-diretora é a ortopedista Simone Martins Gerhardt Pereira, enquanto o secretário é o Dr. Adão Justiniano Coelho Rodrigues. Ainda integram a Repreg os Drs. Charles Name de Dominicis, Elicimar Luis Beltran Martins, José Antonio Fuchs, Lucas Nitsche Rocha, Rodrigo Vettori Goulart de Oliveira, Sergio Miziara Borges e Sidarta Keizo Hossaka. (Confira AQUI para contatar).

Unimed Paranaguá

Oficialmente, a Unimed Paranaguá foi instituída em 1° de fevereiro de 1980. Contudo, o engajamento dos médicos locais para constituição de uma cooperativa remontam a dezembro de 1977, quando foram iniciadas as atividades. O primeiro convênio foi celebrado em junho de 1978, com a já extinta Cotelpa. Em seguida foram fechados outros seis convênios, chegando a 17 até 1980. “A oficialização da cooperativa foi o resultado da luta para o cumprimento dos objetivos de médicos idealistas e do desejo de oferecer uma estrutura melhor na área da saúde para a população parnanguara”, diz a apresentação do portal da singular, que hoje tem como diretor presidente o Dr. Flávio Grínberg. A vice é a Dra. Andrea Lacerda Penteado de Castro, funcionando como diretor superintendente o Dr. Dr. Alessandro Michaelis.

Nos 40 anos de história da Unimed do Litoral, importante personagem médico a ser destacado é o Dr. Luiz Carlos Misurelli Palmquist (CRM 2.526), formado pela UFPR e especialista em Pneumologia e Tisiologia. Em Paranaguá, foi um dos responsáveis pela fundação de hospital e medicina de grupo, encerrada por seus sócios para a criação da Unimed. Presidiu a Unimed Paranaguá por oito anos. Foi conselheiro do CRM por 10 anos e presidente da Associação Médica do Litoral do Paraná por três gestões. Dentre outras funções, foi vice-presidente da Ocepar. Em 2019 ele recebeu o Diploma de Mérito Ético pelo Jubileu de Ouro.

clique para ampliarclique para ampliarTela do artista Alfredo Andersen (1869-1935), inspirado em Paranaguá, onde morou. (Foto: Reprodução)

História

Fundada em 1648, Paranaguá é a cidade mais antiga do Paraná e a principal do litoral. O município foi criado pela Carta Régia (Lei 5), de 29 de julho daquele ano e instalado na mesma data, desmembrado do estado de São Paulo. A construção de suas docas data de 1934, quando passou a figurar entre os principais portos do País, com a denominação de Porto Dom Pedro II. A arquitetura da cidade preserva vestígios da colonização portuguesa em seus casarios de fachada azulejada, em suas ladeiras e em suas igrejas.

Desde 1549, a costa litorânea paranaense já era conhecida e habitada pelo branco europeu. Pelo menos é o que consta no relato do náufrago alemão Hans Staden, registrado em livro. Foi-se efetivando uma povoação, e em 1578, existia uma pequena capela sob a invocação de Nossa Senhora do Rosário.

A Estrada de Ferro Curitiba-Paranaguá, criada em 1880, é hoje uma das mais famosas do Brasil. Construída sobre a Serra do Mar, teve de vencer grandiosos obstáculos do relevo que pareciam ser impossíveis de se realizar para construção de sua linha férrea. Seu primeiro trecho foi inaugurado em 1883 e já em 1885 estava concluída.

clique para ampliarclique para ampliarArte comemorativa dos 374 anos da cidade. (Foto: Reprodução)

Distante 91 quilômetros da Capital, Paranaguá tem seus limites territoriais com os municípios de Antonina, Guaraqueçaba, Morretes, Guaratuba, Pontal do Paraná e Matinhos, em parte dos causa de suas ilhas, como a do Mel, que fica na embocadura da baía. Paranaguá tem coimo cidades irmãs Awaii, no Japão, e Maiupol, na Ucrânia, hoje em área de conflito.

O atual prefeito de Paranaguá é Marcelo Elias Roque, que tem descendência do primeiro médico formado no Paraná a se instalar naquela cidade. A história política recente inclui o médico Edison de Oliveira Kersten (CRM-PR 6.209) como um dos ocupantes da chefia do executivo municipal. Nascido em Itaporanga (SP) e formado em dezembro de 1978, é especialista em Clínica Médica e Medicina do Trabalho. Era vice-prefeito no início da década passada e ascendeu a função em junho de 2013, com o afastamento do titular por problemas de saúde.

O médico Alcino Manoel Cordeiro Cortês, um dos pioneiros de Paranaguá e que era especialista em Cardiologia e Hematologia e Hemoterapia, chegou a participar do legislativo municipal e foi candidato a prefeito em 1982. Falecido, hoje nomeia o serviço de banco de sangue da cidade.

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