09/04/2012
         Parto sem medo
         
         No palco, duas figuras centrais em total sinergia. Os flashes são insistentes e a plateia assiste ao espetáculo que emociona
            até mesmo os mais céticos: o encontro entre mãe e filho, que, mesmo juntos desde o momento da concepção, jamais se viram e
            nunca se tocaram. O nascimento é um marco na vida de ambos e estudos comprovam que a nossa capacidade de amar se relaciona
            com a percepção de mundo que temos ao nascer. E você sabe o porquê?
            
            
Durante a gestação, a mulher opta pelo tipo de parto que trará seu filho ao mundo, mas muitas delas não são conscientes
            desta escolha. O fazem por medo, pressão e até por ignorarem os benefícios do trabalho de parto no nascimento da criança.
            
            
            
Dados do Ministério da Saúde mostram que, em 2010, o Brasil registrou mais cesarianas do que partos normais. Enquanto
            em 2009 o país alcançava uma proporção de 50% de partos cesáreos, em apenas um ano, a taxa subiu para 52%. Na rede privada,
            o índice de partos cesáreos chega a 82% e na rede pública, 37%.
            
            
            
O que muita gente desconhece são as vantagens que um parto normal pode trazer ao bebê e a mãe. Estudos comprovam que as
            chamadas "cesáreas eletivas" são as que representam maior risco. Nesse tipo de parto, a mãe agenda o dia do nascimento e o
            bebê nasce sem que ela entre em trabalho de parto, o que pode causar problemas de saúde, principalmente respiratórios, na
            criança. No decorrer da história, o processo fisiológico do parto natural sempre foi visto como dolorido e sofrível, fazendo
            com que a mulher tivesse uma visão distorcida em relação ao nascimento. Mas, afinal, dá para reverter esse quadro?
            
            
            
Embora todos saibam que a fisiologia do parto envolve uma experiência corporal intensa, é possível encará-la com prazer
            e alegria, desfazendo-se de mitos que deixam a cabeça da mulher em polvorosa. Claro que não é de uma hora para outra que a
            mulher vai deixar de ter medos, afinal, tratando-se do desconhecido, é natural que todo o processo faça com que ela sinta-se
            amedrontada. Mas tudo fica bem mais difícil se a mulher não se informa e acata tudo o que ouve por aí.
            
            
            
Para começar, a ocitocina - o hormônio que estimula as contrações do útero durante o parto e a expulsão - está presente
            na lactação, é responsável pelo ato sexual e é um dos grandes responsáveis pela sensação de emoção que a mamãe sente ao pensar
            no seu bebê. Ela também auxilia na maturação pulmonar, grande conjunto químico de hormônios que produzem o leite.
            
            
            
Aquelas contrações, que na hora parecem indesejáveis, estão só preparando o corpo para uma série de transformações que
            não culminam com o nascimento. Muitos hormônios liberados pela mãe e bebê durante o parto estão fortemente presentes na primeira
            hora de vida posterior ao nascimento, quando a mãe e filho se reconhecem, formando uma sinestesia perfeita, cada qual embebido
            em fluidos naturais que excitam sua capacidade de amar. Isso mesmo: o "hormônio do amor" é até absorvido pelo bebê através
            da amamentação.
            
            
            
Portanto, quando for parar para pensar no tipo de parto, lembre-se de que é possível vivenciar esse momento pelas vias
            naturais, permitindo que o corpo trabalhe de forma que a natureza o programou: certamente, uma sucessão de acontecimentos
            culminará na melhora da relação afetiva entre mãe e filho. Mas esses só acontecerão se a mãe estiver consciente de sua responsabilidade
            em todas essas ações.
            
            
            
            
Artigo escrito por Alberto Jorge Guimarães, médico ginecologista e obstetra, mestre pela Escola Paulista de
            Medicina e defensor dos conceitos de Parto Humanizado.
            
            
            
            
Fonte: Gazeta do Povo
            
            
Publicado em 06/04/2012.