14/03/2022

Pesar pelo falecimento do médico, professor e pesquisador Alberto Orlando da Eira Rebelo

Natural de Angola, antiga colônia portuguesa, ele tinha 89 anos de idade e 65 de formação pela Universidade de Lisboa. Foi um dos cinco fundadores da Novaclínica, de São José dos Pinhais. Uma filha também é médica

O Conselho Regional de Medicina do Paraná registra com pesar o falecimento do médico, professor e pesquisador Alberto Orlando da Eira Rebelo (CRM-PR 4.561) ocorrido no domingo (13) no Hospital Pilar, em Curitiba. O sepultamento ocorreu no mesmo dia, às 15h30, no Cemitério Parque Iguaçu, em cerimônia restrita aos familiares. Nascido em Angola, quando colônia portuguesa na costa ocidental da África, o médico tinha 89 anos de idade e mais de 65 de formação pela Universidade de Lisboa (Portugal) e tinha título de especialista em cirurgia geral. Estava no Brasil desde o início dos anos 1960, quando revalidou seu título pela Universidade Federal do Paraná, onde foi professor.

Atuando em antigo hospital de tratamento de tuberculose em São José dos Pinhais, na Grande Curitiba, ele foi um dos cinco médicos fundadores da Novaclínica Hospital e Maternidade, em 1977, que passou a funcionar no espaço da instituição anterior. Seus colegas nessa trajetória foram os Drs. Rui Kiyoshi Hara, João Renato Piovesan, Miguel Haluch Filho e Brasílio Vicente de Castro Filho, que faleceu no dia 28 de fevereiro último. A Novaclínica tem hoje mais de uma centena de médicos em seu corpo clínico.

Poliglota, com domínio do português, bando (língua nativa de Angola), inglês, espanhol e italiano, o Dr. Alberto Rebelo ainda estava se aperfeiçoando no tupi-guarani. Tinha desacelerado na Medicina desde que completou 75 anos e se dividia entre sua casa na Grande Curitiba e Ubatuba, no litoral paulista.

Viúvo desde meados dos anos 2000, era casado com a paranaense Ymara (“brilho da água”, em tui-guarani) Maria Licnerski, que conheceu em Ubatuba, onde ela é dona de uma loja de arte e decoração. Dos sete filhos do Dr. Alberto Rebelo, somente o mais novo nasceu em solo brasileiro, em Pelotas (RS), onde a princípio esperava se radicar. Um de seus filhos é a médica Fernanda Maria Martins da Eira Rebelo (CRM-PR 14.388), especialista em radiologia e diagnóstico por imagem e que é casada com o também médico Alan César Diório (CRM-PR 14.394), cirurgião geral. O casal atua em São José dos Pinhais.

De acordo com os registros do Dr. Alberto da Eira Rebelo, ele nasceu em 3 de dezembro de 1932 na cidade de Lobito, que acolhe o segundo porto mais importante de Angola. Depois de se formar na capital portuguesa, retornou ao seu país, onde abriu uma clínica e assumiu cadeira na Universidade de Angola, na capital Luanda, onde também trabalhou na instalação de serviços públicos. Atuou como médico do Exército no combate com guerrilheiros e passou pelos Estados Unidos antes de vir para o Brasil, a convite do então ministro Ney Braga, da Educação. Revalidou seu diploma pela UFPR em janeiro de 1962, tendo se inscrito no CRM-PR do Paraná e do Rio Grande do Sul (n° 6.960).

clique para ampliarclique para ampliarDr. Rebelo, fotografado em Ubatuba. (Foto: Arquivo)

Trajetória e reportagem

Uma reportagem publicada em maio de 2014 pelo jornal Notícias do Dia, de Joinville (SC), com informações de Carlos Adauto Vieira, traz um pouco mais da trajetória do cirurgião geral, professor e pesquisador. Na oportunidade, ele já estava afastado das atividades e passando mais tempo no litoral paulista. Confira alguns trechos:

“Durante os anos em que exerceu a profissão de médico, Alberto Eira Rebelo era, acima de tudo, um incansável pesquisador, sempre à procura de avanços, o que lhe valeu o reconhecimento em sua terra-natal, Angola, em Portugal e nos Estados Unidos. Aposentado, hoje morando em Ubatuba, intercala caminhadas pela orla – sempre acompanhado pela fiel Tininha, a vira-lata que se tornou moradora efetiva – com horas dedicadas à leitura, de preferência tendo como tema a história do Brasil, pátria adotiva. Relatou, na ocasião, que estava pesquisando origens dos termos em tupi-gurani.

Sobre a cidade natal, disse ser o melhor porto do país, tanto pelas características naturais quanto pelo constante trabalho de dragagem, sem deixar de fazer crítica a pouca importância que o Brasil dedica à dragagem dos portos.

Filho de um comerciante e de uma brasileira do Pará, Alberto Rebelo optou pela medicina logo que terminou os estudos no liceu (equivalente ao ensino médio), como melhor aluno da turma e entre os três primeiros de Angola. Formou-se pela Universidade de Lisboa, especializado em cirurgia geral, e logo foi aprovado em concurso para a rede hospitalar da capital portuguesa. Retornou ao seu país, abriu uma clínica e assumiu uma cadeira na Universidade de Angola, na capital Luanda, onde também trabalhou na instalação de serviços públicos de saúde.

Chegou a integrar o Exército, nas intermináveis lutas contra a guerrilha que na época assolava a nação. Mas não usava a cruz vermelha no braço, marca dos serviços médicos: “Guerrilheiros não davam a mínima para convenções internacionais. E médicos eram alvos importantes. Usar a faixa com a cruz vermelha era um risco dobrado”.

Em Luanda, o médico Alberto Rebelo dedicou-se às pesquisas sobre crioconservação – a preservação de órgãos a baixas temperaturas. Aprofundou-se depois, no ano e meio que passou em Minnesota, nos Estados Unidos. Sempre bem-humorado e espirituoso, larga um palavrão ao se lembrar do rigoroso inverno norte-americano, insuportável para quem vivera na tropical costa ocidental africana.

Para a imprensa portuguesa, Alberto Rebelo merecia até o Nobel, por suas contribuições para a técnica de crioconservação. Um recorte que ele guarda, do jornal “Expresso”, de Lisboa, de outubro de 1995, dizia, abaixo do título “Os segredos do frio”, que “passara quase despercebida, em 1973, a notícia de que um cientista português (na verdade angolano) consegue conservar órgãos congelados a 72 graus negativos … transplantando com sucesso rins de cães”.

Na segunda metade do século XX, convidado pelo então ministro da Educação Ney Braga, do governo Geisel, Rebelo veio para o Brasil. Em Pelotas, onde seria o destino final, nasceu o sétimo filho. “Vim de Angola com seis filhos e meio, o sétimo no ventre da mãe”. Mas ele preferiu Curitiba.

Já Ph.D em Medicina com sua tese sobre criopreservação, abriu clínica, deu aulas na Universidade Federal do Paraná e trabalhou num hospital em São José dos Pinhais, especializado no tratamento da tuberculose.

Aposentou-se aos 75 anos, meta estabelecida em seu planejamento. “O sucesso em qualquer estágio da vida depende de metodologia e disciplina, e tudo começa na família”, filosofa, citando as virtudes que norteiam sua vida.

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