Promoção à saúde e prevenção de doenças em um ciclo virtuoso

Guilherme Augusto Murta

Em geral, o termo saúde é utilizado como a ausência de sintomas característicos a doenças e que esta condição não demanda de avaliação médica. Por sua vez, quando a patologia se evidencia, o senso comum é associar unicamente a busca da cura por intermédio do médico. Mas nem sempre é assim, especialmente tratando-se de Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), como diabetes, hipertensão arterial e asma. Como consta no Dicionário de Saúde e Segurança do Trabalho do Trabalhador, o conceito de patologia crônica abrange um conjunto de condições clínicas, relacionadas habitualmente a múltiplas causas, com prognóstico incerto. Contam com início gradual e duração longa ou indefinida. O curso clínico muda ao longo do tempo e há períodos de agudização. De forma ampla, estes períodos são considerados como doença e as fases em que a patologia não se manifesta como sintomas, estando silente, pode passar a impressão de plena saúde. Não é! Além de ter impacto negativo na qualidade de vida, as DCNT cursam com maior possibilidade complicações e as sequelas podem ser definitivas e, em alguns casos, provocar morte prematura.

Para prevenção das doenças crônicas, a alternativa indicada é promover saúde. Isto ocorre com modificações de hábitos de vida e a mitigação de fatores de risco por meio do estimulo a atividades físicas, alimentação saudável, adequação do peso corporal e cessação do tabagismo. O Ministério da Saúde elaborou o Plano de Ações Estratégicas para o Enfrentamento das Doenças Crônicas Não Transmissíveis (DCNT), que define as ações nas dimensões principais: vigilância, informação, avaliação e monitoramento; promoção da saúde; e cuidado integral. Estes aspectos envolvem muito mais do que o atendimento pontual; têm o significado que a atenção a saúde é para todas as pessoas e com acompanhamento continuado.

A contextualização deste cenário é importante quando o propósito é ter, de fato, saúde. Para isso, a jornada de saúde do indivíduo precede a manifestação de sintomas. Inicia antes da busca a um hospital, policlínica ou consultório médico quando da doença. Este conceito é algo unânime, mas não é usual. O hospital tem como porta de entrada de pacientes doentes. Nos consultórios médicos há a mesma tendência. Esse é um fenômeno culturalmente instituído. Quando isto é identificado, é preciso propor a modificação do mindset, tanto do médico quanto do paciente, para que ocorra o acompanhamento da saúde e bem-estar, especialmente quando não há identificação de patologias sintomáticas. Para isso ser operacionalmente viável, uma estratégia possível é que em altas médicas haja a informação ao paciente de que a continuidade do acompanhamento segue mesmo após a saída, objetivando uma vida genuinamente saudável e longeva. O processo passa também pela conscientização da equipe de saúde em acreditar no modelo e influenciar positivamente o paciente no mesmo propósito, gerando um cuidado coordenado.

Paralelamente, o sistema de saúde precisa estar preparado para trabalhar com indicadores e com ferramentas que permitam o monitoramento para o acompanhamento ser efetivo. Em havendo desvio, a equipe precisa ser alertada para entrar em contato com o indivíduo e ofertar alinhamento do propósito de qualidade de vida e bem-estar. O paciente empoderado de conhecimento e amparado por uma equipe de saúde como referência tem maiores chances de ser saudável. Caso isto não ocorra, toda esta harmonia conceitual será infrutífera, perdendo-se com a alta médica tradicional.

O acompanhamento efetivo por uma equipe de saúde de referência, dedicada e que crie vínculos é um modelo profícuo para incentivar o estilo de vida saudável, prevenir patologias, manter seguimento programado de DCNT e, quando necessário, ser ágil na intervenção médica ao atender situações agudas. A experiência do profissional de saúde, do paciente e os desfechos formam um ciclo virtuoso que propiciam um cuidado integral e integrado em benefício de todos.

* Guilherme Augusto Murta é médico do trabalho e membro da Comissão de Saúde Suplementar do CFM (CRM-PR 24.287 e RQE 2727).

**As opiniões emitidas nos artigos desta seção são de inteira responsabilidade de seus autores e não expressam, necessariamente, o entendimento do CRM-PR.

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