15/07/2019

Psiquiatra faz o caminho inverso após longa jornada nos Estados Unidos

Paulo Roberto de Pauli Bettega volta a Curitiba, cidade natal, onde coloca em prática projeto para atuar em paralelo com atividades na América do Norte

A série Médicos Paranaenses pelo Mundo tem mostrado personagens que deixaram a terra natal para aperfeiçoar os estudos e, muitas vezes, fazendo a opção por trabalhar e viver no exterior de forma definitiva. O personagem desta edição é o Dr. Paulo Roberto de Pauli Bettega, que após a conclusão do curso médico pela Universidade Federal do Paraná e residência em clínica médica pelo HC/USP, seguiu para os Estados Unidos. Lá, após fazer residência em psiquiatria geral/infantil, radicou-se em Houston, Texas, para exercer a sua prática.

clique para ampliarclique para ampliarDr. Paulo (centro), com a filha Manoela e o secretário-geral do CRM-PR, Luiz Ernesto Pujol. (Foto: CRM-PR)

Devido a questões familiares, ele retornou no ano passado a Curitiba e, durante este período, vislumbrou a possibilidade de estabelecer a prestação de serviços de ordem clínica, didática e de treinamento em sua cidade natal, em paralelo com as atividades que desenvolve no território norteamericano. Como primeiros passos, obteve o seu registro no CRM-PR (ganhou o número 40.575) e a validação de sua especialidade em psiquiatria. Agora está viabilizando a execução de seu projeto com a constituição de um centro de psiquiatria integrada, o Effix.

Em visita ao Conselho de Medicina, o médico falou sobre nossa cultura, prática psiquiátrica, treinamento no exterior em centros de excelência e as dificuldades para validação dos títulos no Brasil. Também abordou aspectos de seu projeto que, acredita, possuem grau de diferenciação e exclusividade, e ainda enalteceu a qualidade de ensino médico em Curitiba no período de sua formação. “Foram formados excelentes médicos que, na minha opinião, seriam facilmente aceitos ou recrutados por centros de excelência no exterior.”

Análise do sistema

“A minha impressão é de que há, ainda, certa falta de integração e amplitude nos serviços prestados em Curitiba, assim como de algum grau de persuasões ideológicas (em Psiquiatria) que não vem de encontro ao maior benefício e interesse do paciente”, diz o médico, que reforça: “O atual estágio da Psiquiatria requer, além de rigor diagnóstico, a utilização de tratamentos integrados baseados ‑ com preponderância ‑ em dados de pesquisa individualizados ao paciente e com procura por efetividade. É nossa intenção desenvolver serviços psiquiátricos com este viés. Portanto, para todas as idades, para todos os distúrbios, em todos os graus de severidade e no nível adequado, de ambulatório a hospitalar.”

clique para ampliarclique para ampliarDr. Paulo e o Dr. Gerson, colegas na Universidade Federal. (Foto: CRM-PR)

O psiquiatra manifesta que o seu compromisso será sempre de estar atento a novas pesquisas para eventual utilização de resultados comprovados em nível terapêutico. Neste contexto, avalia, será muito produtivo manter intercâmbio com instituições americanas em que esteve vinculado ‑ e também outras ‑ com propósitos de pesquisa, educação e consultoria clínica. “Propomos enfoque biopsicossocial, com integração através da utilização de várias disciplinas, bem como o uso judicioso de medicações, específico, em dosagem correta e por tempo necessário para ser efetivo. Em grande número de vezes, em conjunto com modalidades psicossociais.”

Avanços

Analisando aspectos recentes da área de saúde, ele entende como relevante o emprego da telemedicina, por sua importância para os vazios assistenciais, sobretudo o meio rural. Entende que é fato inexorável, mas que a regulamentação é primordial. “A telemedicina é necessária desde que com regulamentação própria, com proteção de privacidade, adequada documentação de serviços, controle de qualidade etc”.

Dr. Paulo Roberto não deixa de fazer uma crítica à dificuldade presente ainda no Brasil para validação de títulos e residências obtidos no exterior, amenizando a perda de talentos que se constata.

“Devemos sim incentivar profissionais a procurar aperfeiçoamento em centros mais avançados e acolhê-los de volta para propiciar benefício à comunidade e eventual desenvolvimento de centros de excelência no Brasil. Para isso, devem ser desenvolvidos critérios, ranking de instituições em coordenação com o CFM para este propósito. O Conselho já tem a lista de escolas de medicina aceitas nos Estados Unidos para eventual residência médica. O mesmo critério poderia ser utilizado em reverso, para validação no Brasil”.

clique para ampliarclique para ampliarO médico deixou o país logo após se formar e fazer residência. (Foto: Reprodução)

Autoestima

O médico avalia que a população brasileira passou a compreender melhor o alcance e as consequências da saúde mental, num processo importante para superação do estigma enraizado. “A mim parece que no Brasil há menos iniciativa por parte do indivíduo, com tendência a depender mais do Estado, que impõe grande número de regulamentações, limitações e taxações, resultando em certo pessimismo e inibição no desenvolvimento e esforços em área privada e até baixa autoestima. Isto leva à autodepreciação e super valorização e idealização de outras culturas e países. É o tal ‘The pasture is greener on the other side’ (... pasto mais verde no outro lado).”

Em sua visão, contudo, os EUA não devem ser entendidos como o berço pleno da pujança e igualdades sociais. “Têm pobreza acentuada em certas áreas e cidades, além de desigual distribuição de riqueza. Há uma certa pobreza cultural, simplista em certas áreas em razão de isolacionismo, declínio em qualidade e acesso à área de saúde, envelhecimento de infraestruturas etc. Todos sabem há muito tempo que o Brasil, o Gigante Adormecido, tem requisitos formidáveis para desenvolvimento econômico e social em maneira plena, inclusive na área de saúde: recursos naturais, população, afabilidade, disposição, criatividade de seus habitantes, acesso à tradição e proximidade com a economia de mercado, por exemplo. Tenho a impressão que ajustes, correções e incentivos a serem instituídos pelo governo devem catalizar o desenvolvimento e colocar o país em destaque com renovada autoestima. No entanto, é trabalho árduo e requer perseverança para se dar continuidade.”

clique para ampliarclique para ampliarDr. Paulo Bettega com a esposa Maria da Graça. (Foto: Arquivo da família)

Origem e família

O Dr. Paulo Roberto descende de uma família com raízes marcantes na medicina. É sobrinho do Prof. João Luiz Bettega (1916-1996), formado pela UFPR em 1938, especialista em doenças pulmonares e que dirigiu o Sanatório Médico Cirúrgico do Portão de 1947 a 1968. Também tem laços familiares com Ernani João Bettega e Elói Vicente Bettega, pioneiros na constituição do CRM-PR, além de vários outros descendentes que atuam na profissão.

Ele é casado com D. Maria da Graça Guimarães Bettega, formada em biblioteconomia na UFPR e em literatura francesa pela Universidade Washburn (EUA). Ela é a filha mais nova de Luís Guimarães, cafeicultor, cônsul honorário da Holanda e construtor do Castelo do Batel (Curitiba), além de filantropo e presidente do CAP instrumental na aquisição do terreno da Baixada pelo Athletico.

O casal tem três filhos. Manuela (Mandy) Guimarães Bettega, com graduação destacada pelo Colégio Conrad Hilton de Administração de Hotéis e Restaurantes, em Houston, Texas, e agora agente imobiliária no Brasil. Roberto (Rob) Guimarães Bettega é advogado graduado pela Pace Law School, com prática privada civil e criminal na organização Fasulo, Braverman & DiMaggio, de Manhattan (Nova York). Paulo Eduardo (Eddie) Guimarães Bettega tem formação na área de gestão e negócios (MBA) e é diretor internacional de gestão de patrimônio do Citi Bank (Pivate Clients), em Brickell, Miami.

clique para ampliarclique para ampliarCom os filhos Rob e Eddie. (Foto: Arquivo da família)

Formação e especialização

Como relata o Dr. Paulo Roberto, a escolha da futura profissão já estava decidida desde a juventude. Na época, conta, praticou futebol como diletante no juvenil do Athetico Paranaense, assim como seu pai na época do amadorismo e seu filho Eddie, em passado recente.

Quando se formou, o Brasil vivia momento político delicado com o governo sob regime militar. Contudo, ele diz que não teve nenhum problema durante a formação e que isso não interferiu em sua carreira profissional e na decisão de ir para os Estados Unidos para treinamento e prática em Psiquiatria. “Não tive nenhum problema, embora tenha conhecimento que alguns conhecidos foram presos ou até tiveram que deixar o país”.

Conta que fez internato no Hospital Nossa Senhora das Graças e, logo após obter o diploma médico, fez residência em Medicina Interna no Hospital de Clínicas da USP, ficando dividido entre endócrino e psiquiatria. Escolher a segunda ao seguir para Illinois (EUA). Ali, fez residência em Psiquiatria Geral no Chicago Medical School Mount Sinal Hospital, complementando a formação no Menninger School of Psychiatry Topeka, Kansas e, depois, fazendo Psicoanálise no Topeka Institute dor Psychoanalysis. Na fase inicial, rememora, chegou a trabalhar mais de um ano no atendimento de emergências, em Chicago.

Atuou em consultório particular e na administração de serviços em sua especialidade em Houston, também no Texas, onde se tornou presidente e CEO, em 2009, do Behavioral Medicine of Houston. Também foi diretor de treinamento de residência e programa de psiquiatria infantil no Wester Missouri Mental Health Center, na Universidade de Missouri, em Kansas City, e líder de equipe do programa hospitalar parcial para Adultos no Menninger Memorial Hospital, Topeka. Dentre outras muitas atividades, ainda foi diretor médico de Unidade de Vícios em Adolescentes do West Oaks Hospital e professor assistente do Departamento de Psiquiatria do Baylor College of Medicina, ambos em Houston, além de professor associado de Psiquiatria da Baylor Medical School e extensiva prática em Psiquiatria integrada hospitalar e em consultório envolvendo adultos, adolescentes, crianças e pacientes geriátricos.

Ao enfatizar a importância do treinamento realizado na Menninger School of Psychiatry, em Psiquiatria Geral, Infantil e Psicanálise, lembra que essa instituição hospitalar, agora em Houston, pelos últimos 30 anos, de forma consecutiva, entrou no ranking das melhores dos Estados Unidos, ao lado de Harvard, Cornell e John Hopkins, por exemplo.

O Dr. Bettega diz que gostaria que colegas e profissionais da área de saúde mental mantivessem contato para eventual contribuição e participação no desenvolvimento do projeto. Ele enfatiza que aspectos didáticos e treinamento de profissionais são partes integrantes da proposta.

Para contatar o Dr. Paulo R. Bettega, enviar email para: drpbettega@gmail.com

Médicos Paranaenses pelo Mundo

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