18/04/2008

SUS tem potencial que nunca foi utilizado, aponta federação de médicos

O Sistema Único de Saúde (SUS) nunca chegou a funcionar com sua capacidade plena pois, desde sua criação, vem passando por um processo de falta de financiamento o que impede que se fale em "fracasso do sistema".

A avaliação é do presidente da Federação Nacional dos Médicos (Fenam), Eduardo Santana, que participou hoje (17) de um ato público das entidades médicas na Câmara dos Deputados pela aprovação da lei que regulamenta a Emenda Constitucional 29, definindo investimentos federais, estaduais e municipais para saúde.

"Quando o SUS foi criado tínhamos a perspectiva de um financiamento de 30% do orçamento da seguridade social. Imediatamente à sua criação, nós perdemos isso e temos observado um progressivo desfinanciamento, por isso não podemos dizer, como muitos querem, que o SUS não deu certo. Ele tem um potencial de funcionamento que nunca foi utilizado. É preciso resgatar o SUS que foi criado há 20 anos e a regulamentação da emenda 29 cria possibilidades para isso", defendeu Santana.

De acordo com ele, se o modelo inicial de financiamento do SUS fosse cumprido, o investimento da União no sistema seria de cerca de R$ 105 bilhões: mais que o dobro dos R$ 48 bilhões aplicados no ano passado. Em 2007, a soma de investimentos das três esferas de governo para atendimento à saúde dos 180 milhões de brasileiros foi de R$ 90 bilhões, valor equivalente ao usado pela saúde complementar (planos privados) para atender a 40 milhões de pessoas.

O presidente da FNM também destacou a necessidade de mudanças na tabela de serviços do SUS que hoje não oferece nem metade dos procedimentos médicos, como exames de diagnóstico e cirurgias, disponíveis no país. Entre os exames oferecidos, muitos - como as ultrassonografias computadorizadas - são de difícil acesso à população.

Além da regulamentação da Emenda 29, as reivindicações da classe médica em defesa do SUS incluem ainda a aprovação de um plano de cargos e salários e reajuste do piso salarial dos médicos, dos atuais três salários mínimos para R$ 7.503,18. As reivindicações constam de uma carta aberta encaminhada à Presidência da República no início deste mês.

De acordo com Santana, a escassez de recursos, aliada à falta de uma política de recursos humanos, está expulsando os médicos do sistema. Hoje, cerca de 70% dos 320 mil médicos do país têm vínculo direto ou indireto (trabalhando em hospitais e clínicas conveniados) com o SUS.

Paulo Amaral, presidente da Associação Nacional dos Médicos Residentes, que congrega cerca de 13 mil médicos recém-formados, destacou a falta de condições de trabalho da classe. "Quem dá a cara nas emergências lotadas são os médicos que estão saindo para o mercado de trabalho, que não têm plano de carreira e que precisam se sujeitar a essa situação", afirmou. Segundo ele, um médico-residente recebe R$ 7 reais por hora do SUS e trabalha 60 horas semanais.

Para o deputado Rafael Guerra (PSDB-MG), presidente da Frente Parlamentar pela Saúde, da Câmara dos Deputados, há condições favoráveis para aprovação da lei, cuja votação está prevista para o dia 6 de maio. Segundo ele, depois de o projeto ter sido aprovado por unanimidade no Senado, a Câmara será "considerada vilã" se rejeitar a proposta. Além disso, ele também destacou que a votação vai ocorrer a poucos meses das eleições municipais. "Não vai ser fácil votar contra a saúde nesse momento".

Ele salientou, no entanto, que será necessário um trabalho "de corredor" para sensibilizar os parlamentares da base governista e impedir uma nova derrota, como a que ocorreu em outubro do ano passado, quando outro projeto regulamentando a Emenda 29 foi derrubado no plenário.


Fonte: Agência Brasil

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