05/12/2007

Saúde desponta como pior problema do país

Pesquisa Datafolha revela que 21% listam a área como principal preocupação, ao lado agora de violência e desemprego. Avaliação coincide com o momento em que governo tenta prorrogar a CPMF sob o argumento de que precisa dos recursos para o setor


Pela primeira vez desde 1996, ainda sob o governo FHC, a saúde é apontada como o principal problema do Brasil, no topo agora ao lado de segurança e desemprego. A saúde é também avaliada pela população como a área em que o governo Lula está se saindo pior. Os dados são da mais recente pesquisa Datafolha, realizada entre os dias 26 e 29 de novembro.

A preocupação do brasileiro com a área da saúde equiparou se à com a violência, antes isolada em primeiro lugar no levantamento de março realizado cerca de um mês e meio depois da morte de João Hélio, 6, arrastado pelo lado de fora do carro que fora roubado de sua mãe, no Rio, episódio que foi amplamente noticiado.

Em março, a falta de segurança era o principal problema do país para 31% e a saúde, para 11%, ocupando a terceira posição. Desemprego ficava em segundo lugar, com 22%.
Agora, a saúde e a segurança lideram a lista de principais preocupações dos brasileiros, ambas com 21%. Outros 18% acham ser o desemprego a principal mazela. Há empate técnico devido à margem de erro de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

O Datafolha ouviu 11.741 pessoas, em 390 municípios. O aumento da percepção da saúde como o principal problema do país acontece após ser noticiada uma série de fatos negativos relativos ao setor, como hospitais abandonados, morte de pacientes em filas de atendimento, servidores da área em greve pelos Estados e surto de dengue de janeiro a setembro o número de casos registrados aumentou 49,77% em relação ao mesmo período de 2006, o que levou o ministro da Saúde, José Gomes Temporão, a declarar que o país vivia uma nova epidemia da doença.



Pior área

Além de ser apontada como um dos principais problemas do país, a saúde é também, segundo o levantamento do Datafolha, a área em que a atuação da administração petista recebe mais críticas. Para 22% aumento de oito pontos percentuais desde março, é a área de pior desempenho do governo federal. Em seguida, estão a segurança (18%) e o combate ao desemprego (10%).

A avaliação ruim do governo na área da saúde coincide com o momento em que o Palácio do Planalto concentra suas forças na prorrogação da CPMF, o imposto do cheque, com o argumento de que a arrecadação do tributo vai para essa área hoje, da alíquota de 0,38%, 0,20% vai para a saúde, 0,10%, para a Previdência, e 0,08%, para o Fundo da Pobreza.

Também coincide com o PAC da Saúde, que será anunciado pelo presidente Lula amanhã, e com a aprovação pela Câmara, há pouco mais de um mês, da emenda 29, que dá ao setor R$ 24 bilhões adicionais ao longo de quatro anos além dos R$ 47 bilhões já previstos no Orçamento 2008.



Nas capitais

O índice dos que acreditam que a saúde é o principal problema do país é maior entre os brasileiros de 45 a 59 anos (27%) e nas cidades de Salvador, Florianópolis e Rio (todas com 29%). Nesta última capital, a saúde empata com violência, também com 29% o desemprego aparece com 9%.
É no Nordeste, no entanto, onde houve a maior variação desde março. Naquele mês, somente 9% diziam que a saúde era o principal problema. Hoje, o percentual é de 24%, aumento de 15 pontos percentuais.



Desemprego

Historicamente sempre isolado no topo como o maior problema nacional, o desemprego vem perdendo lugar nas menções dos entrevistados desde dezembro do ano passado, quando aparecia com 27% das opiniões. Hoje, é apontado como o principal problema brasileiro por 18%.

A avaliação coincide com a queda da taxa de desemprego nas seis principais regiões metropolitanas do país, verificada em outubro 8,7% contra 9% de setembro, a menor marca para um mês de outubro desde 2002, segundo a Pesquisa Mensal de Emprego do IBGE.



No Nordeste, caos evidencia crise no setor

A ascensão da saúde ao posto de maior problema do país, segundo pesquisa Datafolha, ocorre no ano em que o caos nos hospitais e os protestos dos médicos das emergências do Nordeste evidenciaram que crise no sistema público não é pontual.

Essa constatação acontece sob o impacto das ameaças de que tudo pode piorar, feitas pelo governo federal, interessado na aprovação da prorrogação da CPMF.

As manifestações de médicos e políticos levaram a público assuntos até então desconhecidos do usuário comum. As exposições mais evidentes surgiram durante os protestos contra os "baixos salários, a falta de condições de trabalho e a superlotação nos hospitais".

Médicos das principais emergências públicas do Nordeste entraram em greve ou pediram demissão em massa. Apoiados pelas entidades de classe, exibiram imagens de corredores cheios e pacientes sendo atendidos no chão.

Em Pernambuco, onde o movimento ganhou força e se espalhou pelo Nordeste região que mais depende do SUS, 134 médicos se demitiram. Emergências fecharam e doentes graves foram transferidos pelo governo para outros Estados.

Um acordo pôs fim ao movimento, mas o Sindicato Estadual dos Médicos reclama que três meses se passaram e a situação nas emergências continua "a mesma".

Em Alagoas, os profissionais não trabalharam por 88 dias. Houve caos nos hospitais públicos e, apesar do retorno dos médicos ao trabalho, a crise ainda persiste.

No Ceará, houve protestos contra a falta de UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) no interior do Estado. Pelo menos 25 cirurgiões cardiovasculares de hospitais credenciados pararam de atender pelo SUS.


Fonte: Folha de S.Paulo

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