11/02/2008

Taxa de mortalidade infantil sobe 38,2% em dois anos

Ao contrário do registrado nacionalmente, Londrina está enfrentando um crescimento na taxa de mortalidade infantil, de bebês até 1 ano de idade. Conforme dados municipais do Perfil 2007, depois de atingir o menor índice em 2004, com um coeficiente de 8,9 mortes por mil bebês nascidos vivos, nos dois anos seguintes houve aumento da taxa. Em 2005, a taxa ficou em 10. No ano seguinte, subiu para 12,3 - alta de 38,2% em comparação com 2004. Os dados de 2007 só devem ser divulgados entre março e abril. A redução da mortalidade infantil é um dos Objetivos do Milênio, estabelecidos pela Organização das Nações Unidas (ONU).

A meta vem sendo atingida se for analisada a taxa brasileira de mortalidade infantil. Em 2000, era de 26,8. Em 2005, caiu para 21,2. O bom desempenho também é confirmado no relatório Situação Mundial da Infância 2008 - Sobrevivência Infantil, divulgado no último dia 22 pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). No estudo, o Brasil subiu 27 posições no ranking da taxa de mortalidade na infância (menores de 5 anos), passando da 86ª posição para a 113ª.

O índice de Londrina para 2006 é um pouco melhor que o geral do Paraná (13,6), porém acima ao registrado pela 17ª Regional de Saúde (11,6), do qual a cidade faz parte juntamente com outros 20 municípios. Segundo o chefe da Regional, Adilson de Castro, os índices regionais vêm diminuindo ano a ano. "Algumas cidades como Prado Ferreira, Pitangueiras e Guaraci, por exemplo, tiveram mortalidade infantil zero", afirma.


Contraponto

Para a assessora técnica da Secretária Municipal de Saúde, Josemari de Arruda Campos, não houve aumento da mortalidade infantil no Município. Segundo ela, Londrina vem mantendo uma estabilidade na taxa desde 2001, com índices variando entre 10 e 12 mortes por mil bebês nascidos vivos.

"O ano de 2004 [quando se registrou a menor taxa] pode ser considerado uma exceção. Ele foi totalmente atípico", explica. Naquele período, afirma ela, não houve mortes de trigêmeos nem casos de negligência (como abandono de bebês), fatos que elevam os índices.

No total, em 2006, o Município registrou o nascimento de 6.850 bebês vivos e a morte de 84 crianças com menos de 1 ano de idade. A maioria dos óbitos ocorreu na zona norte, que computou um índice de mortalidade infantil de 17,4. A zona leste veio em segundo, com taxa de 16 e a zona oeste, em terceiro, com 15,3. Somente a região central e a zona sul apresentaram coeficientes abaixo da média municipal, com taxas de 12,1 e 11,9, respectivamente.

"A zona sul há muitos anos conta com o apoio do Projeto Kellog's [uma fundação], de formação de agentes de saúde e de capacitação das associações de bairro e de mulheres. Isso reflete muito na mortalidade infantil", destaca a assessora.


Maioria acontece até o 28º dia de vida

Dos 84 óbitos infantis ocorridos em 2006 em Londrina, 71,4% (o que corresponde a 60 mortes) aconteceram no período neonatal, que vai até o 28º dia de vida, segundo relatório da Secretaria Municipal de Saúde. O levantamento ainda indica que as duas principais causas das mortes infantis continuam as mesmas dos últimos dez anos: afecções do período perinatal e más formações congênitas.

As afecções são, segundo a assessora técnica Josemari de Arruda Campos, decorrentes de problemas na gestação, principalmente a hipertensão arterial pregressa à gravidez ou a específica da gestação (pré-eclampsia) e infecções do sistema urinário. "Esta última, se não for bem cuidada, é a principal causa de nascimento de prematuros", explica.

A terceira causa varia de ano para ano. Em 2006, foram causas externas, como sufocamento por aspiração. "Há ano em que, em terceiro lugar, ficam as doenças infecciosas ou doenças do aparelho respiratório, também de grande ocorrência", afirma Josemari.


Gravidez indesejada e de risco fazem Parigot campeão de mortes

A unidade de saúde do bairro Parigot de Souza foi a que registrou a maior taxa de mortes infantis em 2006. Foram 6 óbitos para 144 nascidos vivos, o que corresponde a um coeficiente de 41,7 mortes para cada mil nascidos vivos, taxa três vezes maior que a municipal. O posto fica na zona norte, que também é a região com o mais alto índice de Londrina.

Para a assessora técnica da Secretaria Municipal de Saúde, Josemari de Arruda Campos, esse fato não pode ser visto como negligência da equipe. "Foi uma anomalia porque, nos anos anteriores, aquela unidade registrou apenas uma morte por ano, com um índice médio de 5 por mil nascidos vivos", afirma. Ela lembra que, em 2006, os servidores municipais permaneceram cerca de 100 dias em greve. "Não posso dizer se isso colaborou ou não para o aumento nos índices. Mas era esperado", diz.

Conforme Josemari, as seis mortes infantis registradas no Parigot de Souza foram ocorrências "anunciadas". "Uma delas foi do bebê de uma mulher hipertensa crônica, nefropata, de 44 anos. Era uma gestação de alto risco. Em um caso desse, o melhor é não engravidar", enfatiza.


Adolescente

Outro caso foi o óbito de um bebê prematuro, ocorrido dois dias após ele sair da UTI neonatal. A mãe, uma adolescente de 15 anos, adormeceu em cima da criança. "Essa fatalidade ilustra bem o que está acontecendo em Londrina. Fez-se um grande investimento em UTI neonatal, em melhoria no atendimento nas unidades de saúde, em Saúde da Família, em programas para estimular o aleitamento, mas ainda é alto o índice de gravidez indesejada", avalia.

Segundo ela, quanto menor a idade da mãe, mais alta a taxa de mortalidade infantil. "Se fosse computado somente as mortes ocorridas com bebês de mães adolescentes, o índice seria altíssimo", afirma.


Primeiro, pré-natal e UTI

Nos últimos 20 anos, o Município instituiu uma série de medidas para reduzir a taxa de mortalidade infantil. Em 1990, era de 22,6. Nesse tempo, a médica Josemari de Arruda Campos esteve à frente do movimento, trabalhando na 17ª Regional de Saúde e na Secretaria Municipal de Saúde. Segundo ela, naquela época, discutia-se a necessidade de melhoria no pré-natal e de se implantar leitos de UTI neonatal, o que impactou favoravelmente na taxa de mortalidade.


Agora, prevenção

No final da década de 90, verificou-se a necessidade de programas como o Saúde da Família. "Hoje, só quando fizermos eficientemente a prevenção da gravidez indesejada e da de alto risco, poderemos reduzir mais os índices", afirma Josemari de Arruda Campos. "Estamos investindo mais em treinamento de pessoal porque acreditamos que é preciso haver uma melhor vinculação entre servidor e comunidade. Já está provado que, nos postos onde os servidores estão inseridos culturalmente na comunidade, os índices tendem a ser bem reduzidos", ressalta.


Morte perinatial é mais alta

A taxa de mortalidade infantil não computa as mortes perinatais (bebês que nascem com sinais de vida, mas morrem na seqüência, e bebês com até 7 dias de vida). Nesse caso, a taxa de mortalidade em Londrina ficou maior: foram 87 mortes em 2006, o que corresponde a índice de 12,6.


Fonte: Gazeta do Povo

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