05/01/2010

Técnica gera vacina de gripe mais rápido


Células de insetos substituíram ovos de galinha no cultivo de vírus H1N1; produção passou de seis meses para dois meses.
Velocidade da fabricação é hoje o principal gargalo para resposta eficaz contra o mal em escala planetária; faltam os testes em seres humanos




Em vez de serem cultivadas em ovos de galinha, como acontece hoje, as vacinas de gripe do futuro poderão ser obtidas a partir de células de mariposas, num processo bem mais rápido do que o disponível atualmente. Pesquisadores austríacos demonstraram a viabilidade da ideia ao obter uma imunização contra o vírus da gripe suína com as células de insetos.

A equipe liderada por Florian Krammer, da Universidade de Recursos Naturais e Ciências da Vida Aplicadas de Viena, testou com sucesso a vacina obtida em camundongos, constatando que os roedores tinham o sistema imune (de defesa) de seu organismo ativado pelo produto.

O avanço é importante quando se leva em conta a metodologia quase arcaica que predomina na fabricação das vacinas contra os vírus da gripe mundo afora. O processo de cultivo em embriões de galinha é complicado e relativamente lento, levando a um ciclo de produção que dura cerca de seis meses.

Já o grupo austríaco, em artigo na revista científica "Biotechnology Journal", afirma ser capaz de chegar ao mesmo resultado em cerca de dois meses. O tempo mais curto de produção poderia fazer grande diferença no número de vidas salvas durante uma pandemia (epidemia mundial) causada por um vírus muito agressivo.


Vírus contra vírus

Krammer e seus colegas se aproveitaram das propriedades de outro agente patogênico, do grupo dos baculovírus, para realizar seus experimentos.
Os baculovírus infectam invertebrados -até onde se sabe, não são capazes de fazer o mesmo com mamíferos como o homem. Como muitos outros vírus, eles "convencem" as células de seus hospedeiros a produzirem seus componentes.

O grupo austríaco, portanto, modificou geneticamente os baculovírus para que eles carregassem a receita genética de dois componentes essenciais dos vírus da gripe. Depois, usaram esses vírus alterados para infectar, em laboratório, células de duas espécies de mariposas, bem conhecidas dos cientistas porque, na fase de lagarta, elas são pragas da agricultura.

O truque deu certo: os vírus modificados fizeram com que as células produzissem os componentes da gripe, que não chegavam perto de ter as propriedades do vírus verdadeiro.

Mesmo assim, eles eram suficientes para alertar o sistema de defesa do organismo a ponto de ele produzir anticorpos contra o vírus H1N1 que andou aterrorizando o mundo no ano passado. Um desses componentes é a hemaglutinina, uma espécie de "pé-de-cabra" molecular que o vírus da gripe usa para se grudar à membrana das células e então invadi-las.

Os dados obtidos em camundongos de laboratório sugerem que a estratégia é promissora.

Antes, porém, é preciso garantir, por exemplo, que o baculovírus não contrabandeie nada de indesejável para as células dos vacinados. Um sinal de que isso é possível é que uma vacina contra o vírus HPV, causador do câncer de colo do útero, é fabricada utilizando a mesma abordagem e já está disponível no mercado da Europa.


Uso mundial de imunização mostra boa segurança

Para a OMS (Organização Mundial da Saúde), ainda é cedo demais para baixar a guarda em relação à gripe suína, embora as piores previsões associadas à doença não tenham se concretizado. Apesar da relativa lentidão da chegada das vacinas ao público, dezenas de milhões de unidades já tinham sido administradas até o fim de 2009. A vacina se mostrou bastante segura, com poucas dezenas de casos de reações adversas, mesma proporção da vacina sazonal.


Fonte: Folha de São Paulo

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