13/05/2008

Tempo para atendimento é um dos dilemas do médico moderno

Professor do Incor diz que é preciso repensar a relação médico-paciente para mudar o futuro


Tempo para que o médico possa se dedicar ao paciente é fundamental para um melhor diagnóstico. Conseguir esse tempo dentro do Sistema Único de Saúde (SUS), e mesmo no sistema de convênio, é o que o cardiologista José Antônio Ramires classifica como um dos dilemas do médico moderno. Professor titular do Instituto do Coração (Incor) de São Paulo, Ramires esteve em Londrina e ministrou a palestra ''Impasses do Médico Moderno'' durante evento científico para médicos promovido pelo laboratório Merck Sharp & Dohme.

''O médico precisa de tempo para se dedicar ao paciente. No Brasil, estamos na 'contramão', tanto no SUS, quanto no sistema privado'', afirma Ramires, citando que no sistema público as consultas médicas são agendadas de 15 em 15 minutos, e o valor pago pelo SUS varia de R$ 9,00 a R$ 11,00. ''Só que do outro lado tem um ser humano, que quer falar, quer se queixar'', diz.

O diagnóstico, aponta o médico, depende de 80% a 85% de uma história ''bem contada''. Os exames, ressalta, são complementares, e ''não tem a obrigação de descobrir o que o paciente tem''. ''O que vale é o paciente, e o médico, que conhecendo aquele paciente, decide qual a importância do exame naquele caso'', afirma, lembrando que a relação médico-paciente e a confiança é construída ao longo do tempo, em que ambos devem se sentir confortáveis e ter empatia.

Por outro lado, em uma sociedade onde a tecnologia não só é bem vista, mas é tida como fundamental, o paciente se sente ''desprotegido'' se o médico não solicita nenhum exame, ou pior ainda, se não receita nada. ''O paciente em geral é frágil e precisa ser ouvido, e o médico tem que ser psicólogo também. Não dá para dissociar as coisas, a menos que não se veja o paciente como uma pessoa, mas como uma doença a ser tratada'', ressalta.

O dilema ''médico sem tempo para se dedicar e paciente desconfiado, que salta de especialista para especialista'' acaba virando um ciclo vicioso, na opinião de Ramires, difícil de escapar, e ''que não depende só do médico'', já que o paciente também acaba entrando nessa ''roda-viva'' difícil de quebrar, em que valoriza mais os exames que a consulta. Mas, passa por um ponto importante que é a formação médica. ''Hoje há um excesso de formação de médicos, em escolas muitas vezes sem estrutura para ensinar de forma adequado. Vai chegar um momento em que será preciso, como na advocacia, fazer o exame da ordem para exercer a medicina'', opina.

Como resolver o dilema é a grande questão, para a qual não há resposta pronta, mas sobre a qual se deve refletir. ''Repensar é o que te faz construir o futuro'', aponta.


Resultado de estudo provoca discussão

O resultado do estudo ''Enhance'', divulgado pelo Colégio Americano de Cardiologia, em Chicago, trouxe muita discussão entre cardiologistas de todo o mundo. Também foi assunto do evento científico promovido em Londrina pela Merck Sharp & Dohme. Quem apresentou o tema foi o cardiologista José Rocha Faria Neto, professor da PUC/PR, de Curitiba.

Feito com mais de 700 pacientes com colesterol alterado por doença genética, o estudo buscou avaliar o benefício de uma nova droga, o ezetimiba/sinvastatina, comercializado com o nome Vytorin. O objetivo foi detectar se nesse grupo específico de pacientes, que não tem o colesterol alterado por conta da alimentação, o medicamento faria diferença na formação de placa de gordura na artéria carótida, na região do pescoço, detectável por exame de ultra-som.

Segundo Faria Neto, os dois grupos estudados, um recebendo a medicação padrão, e outro, recebendo a nova droga, tiveram resultados semelhantes, daí a polêmica. ''O estudo gerou muita discussão porque havia dúvida se o remédio funcionava. Mas, mesmo sem diferenças na formação de placa na carótida, ele foi extremamente eficiente em baixar o colesterol'', avalia. Essa redução do colesterol chegou a 56%.


O médico

Ele ressalta que para a maioria dos pacientes, que não tem a doença genética como causa do colesterol elevado, o tratamento continua com ênfase na modificação da dieta, prática de atividade física e perda de peso.


Fonte: Folha de Londrina

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