17/03/2008

Trabalhadores da saúde são os que mais se acidentam

De acordo com o Ministério do Trabalho e do Emprego, o maior número de acidentes do trabalho, no Paraná, ocorre dentro do atendimento hospitalar


Quando se pensa em profissões perigosas, o que vem logo à mente são aquelas ligadas ao combate do crime, salvar vidas, resgates em acidentes, construção civil, investigações ou que lidam com produtos tóxicos. Mas, pelo menos nas estatísticas, nenhuma delas é a que provoca mais acidentes entre trabalhadores do Paraná. O maior número de acidentados é de profissionais do atendimento hospitalar. Médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e demais funcionários dessas instituições são vítimas constantes de acidentes decorrentes do exercício da profissão.

Dados do Ministério do Trabalho e do Emprego, em 2005 e 2006 (levantamento mais recente), mostram que esse segmento registrou a maior quantidade de acidentes, sendo que, em 2006, houve o aumento de 20% das notificações se comparado ao ano anterior. Dos 36.995 acidentes com trabalhadores notificados, em 2006, 2.401 aconteceram a profissionais do atendimento hospitalar. Segundo a Federação dos Hospitais e Estabelecimentos dos Serviços de Saúde do Paraná (Fehospar), existem 5 mil estabelecimentos de saúde no Paraná, dos quais 540 são hospitais e 70 deles, localizados em Curitiba - não inclui os públicos. Só a iniciativa privada emprega 50 mil profissionais de saúde no Estado.

Diretora de relações sindicais da Fehospar, a advogada Eliane Cornelsen acredita que o setor talvez não seja o campeão de acidentes de trabalho, mas aquele que comunica qualquer tipo de ocorrência e de maneira completa. ''De três anos para cá, a fiscalização da Vigilância Sanitária ficou mais intensa e o empregador mostra mais cuidado com a emissão da Comunicação de Acidente de Trabalho. E a gente sabe que em outros segmentos nem todos os acidentes são comunicados'', defende Cornelsen, pontuando que a nova legislação da segurança e saúde no trabalho em fase de implantação no Brasil é muito avançada, mas que a maioria dos hospitais não terá recursos para cumpri-la.

''O atendimento hospitalar se trata realmente de um ambiente perigoso, existem os riscos biológicos. Hoje, se há um acidente com perfurocortantes o empregado está consciente do perigo de contaminação. Se no passado ele escondia, agora não esconde mais pelo medo de adquirir uma doença'', situa. ''Ficou compreendido que para a própria segurança do empregado e do empregador é importante a comunicação do acidente para os órgãos competentes'', diz ela, informando que os profissionais que mais se acidentam dentro desse universo são os enfermeiros e a maior ocorrência de acidentes é com perfurocortantes.

A enfermeira Luiza Fanes, servidora federal do Hospital de Clínicas (HC), acrescenta que o trabalho ''braçal'' exercido pelos profissionais de enfermagem, como suspender pacientes, acarreta problemas de coluna, bicos-de-papagaio, hérnias e distensões musculares. ''Muitos enfermeiros ficam, depois, puxando a perna devido a alterações na coluna'', revela Fanes, que também é diretora do Sindicato dos Trabalhadores em Educação do Terceiro Grau Público de Curitiba (Sinditest). Dos cerca de 500 servidores afastados, atualmente, 400 são do HC.

Em 1989, Fanes sofreu um acidente com perfurocortante e se contaminou com Hepatite B. ''Eu era chefe do serviço de hemodiálise de um hospital de São Paulo. Estava retirando a agulha da veia do paciente, quando ele puxou o braço e ela entrou no meu dedo, mesmo usando luvas. Um mês depois, comecei a passar mal. Os exames mostraram que tinha adquirido a doença infectocontagiosa'', relata. ''Como o acidente não foi comunicado em até 48 horas, fui afastada e perdi 100% do meu vencimento. Voltei para Curitiba para me tratar, junto da família, caso contrário morreria de fome. Fiz exames periódicos e me curei da hepatite'', desabafa.

''Sorte grande'' teve a auxiliar de enfermagem Maria da Penha Nogueira, de 45 anos, que também sofreu um acidente com perfurocortante, há 14 anos, no HC, mas não se contaminou com nenhuma das doenças das quais o paciente que atendia era portador. ''Estava atendendo um paciente com Hepatite C, tuberculose e HIV. Precisei ministrar uma medicação na veia dele e acabei me cortando, depois, ao desprezar a agulha utilizada. O esparadapo grudou na luva que eu usava e a agulha me espetou. Fiz uma sangria no dedo e o registro do acidente. Graças a Deus não desenvolvi nenhuma doença'', lembra.

''Ainda há carência de informações de como proceder diante de um acidente dessa natureza. A pessoa fica paralisada e falta assistência nessa hora, o trabalhador não sabe nem dos seus direitos. Os acidentes perduram porque continua a situação de risco. É preciso melhorar a orientação e a prevenção universal'', opina Nogueira. A reportagem da FOLHA entrou em contato com a assessoria de marketing do HC, mas não obteve retorno.


Fonte: Folha de Londrina

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