26/06/2007

Uso e produção global de drogas estão diminuindo, segundo as Nações Unidas


A antes prevista epidemia global de abuso de drogas está sendo colocada sob controle, apesar do aumento da produção de ópio no Afeganistão, do consumo de cocaína na Europa e do tráfico na África, informa a ONU.


"Dados recentes mostram que o trem desgovernado do vício em drogas está desacelerando", disse Antonio Maria Costa, o diretor executivo do Escritório das Nações Unidas contra Drogas e Crime (Unodc).


"Para quase todas as drogas - cocaína, heroína, maconha e anfetaminas - há sinais de uma estabilidade geral, seja na produção, tráfico ou consumo", ele disse, comentando sobre o relatório anual da agência sobre drogas que foi divulgado na segunda-feira.


Em uma entrevista por telefone da sede da agência em Viena, Costa disse: "A mensagem geral deste relatório é que temos evidência bem robusta de que o refreamento, uma palavra que usamos pela primeira vez em 2004, está se tornando uma tendência, apesar de precisarmos nos próximos dois anos provar que é estatística e logisticamente forte". "Ainda pode ser um acaso", continuou, "mas esperamos provar que agora é cíclico."


O relatório mostra que o cultivo da coca está diminuindo na América do Sul e o consumo de cocaína está caindo nos Estados Unidos, mas que a redução é compensada por aumentos na Europa, particularmente no Reino Unido, Itália e Espanha.


Na Espanha, o principal ponto de entrada da cocaína na Europa, o relatório mostra que 3% da população usa cocaína, com níveis particularmente altos registrados entre adolescentes, onde o número sobe para 7,2%. Em comparação, nos Estados Unidos, 2,3% da população e 2,7% dos adolescentes são usuários, disse Costa.


Ele disse que o mercado para estimulantes do tipo anfetamina como o Ecstasy estava estável e que pela primeira vez em décadas, as estatísticas globais não mostraram um crescimento da produção e uso da maconha, apesar dela atrair 160 milhões de usuários por ano e ser cultivada em 172 dos 198 países e territórios que participaram do estudo. As maiores concentrações foram encontradas no Afeganistão, Marrocos e Paquistão.


Segundo os novos dados, a produção global da erva cannabis diminuiu 6% em 2005, o último ano medido, em relação ao ano anterior. E a produção global de estimulantes do estilo anfetamina diminuiu 2% em 2005.


O relatório mostra que a produção de anfetaminas continua baseada principalmente na Europa, notadamente na Holanda e Polônia, seguidas pela região báltica e pela Bélgica.


Costa creditou as ações policiais coordenadas pelo aumento do volume de drogas apreendidas, com 48% da cocaína e 24% da heroína produzida em todo mundo atualmente sendo interceptada. Tais números para as duas drogas em 1999 eram, respectivamente, de 24% e 15%.


Mas este sucesso está forçando os traficantes de cocaína da Colômbia e de heroína do Afeganistão a se concentrarem no estabelecimento de novas rotas, e os contrabandistas estão cada vez mais se voltando para a África, disse o relatório.


"Esta ameaça precisa ser tratada rapidamente para deter o crime organizado, a lavagem de dinheiro e a corrupção, assim como para prevenir a disseminação de um uso de drogas que poderia causar o caos por todo um continente já atormentado por muitas outras tragédias", disse Costa.


O padrão de apreensões traçado no relatório revela que o transporte de heroína via Ásia Central para a Rússia é relativamente desorganizado, com o envolvimento de muitas pessoas de países ao longo das rotas.


Em contraste, diz o relatório, o transporte de cocaína da América Latina é dominado por grandes sindicatos baseados no México e na Colômbia, com pouca participação dos países de trânsito da América Central.


Segundo o relatório, o maior pico nos números está ocorrendo no Afeganistão, onde o aumento do cultivo de ópio no sul do país, que enfrenta conflitos pesados, deixou a província de Helmand sozinha como a maior fornecedora mundial de heroína. "A província de Helmand provavelmente responde por mais cultivo ilícito do que todo o restante do Afeganistão e mais do que toda a Colômbia", disse Costa.


As papoulas cultivadas no Afeganistão são responsáveis por 92% da heroína mundial e o aumento lá mais que compensou os sucessos na eliminação de outras fontes de ópio no Sudeste Asiático, onde o cultivo de papoula caiu 80% desde 2000, segundo Costa.


"O Sudeste Asiático está fechando um capítulo trágico que arruinou o Triângulo Dourado por décadas", disse Costa. "A região está atualmente quase livre do ópio, mas não está livre da pobreza e, portanto, os agricultores continuam vulneráveis às tentações da renda ilícita."


Apesar de ter reconhecido que as estatísticas do Afeganistão são alarmantes, Costa afirmou que elas não minam a conclusão geral do relatório de que o abuso de drogas está no momento sendo contido. "O problema em Helmand é a luta entre as forças da coalizão e o Taleban, assim como o fato de que a província está totalmente fora de controle", disse. "Em Helmand, nós não temos um problema de drogas, nós temos um problema de insurreição."


Apesar de seus elogios aos esforços americanos para controle das drogas, ele disse que ainda existem 25 milhões de usuários de drogas no mundo e que os novos ganhos podem ser perdidos se não houver uma maior conscientização da necessidade de tratar o vício como doença. "Se passarmos a ver os viciados como pessoas afetadas por uma doença, da mesma forma como fazemos com o câncer, diabete ou tuberculose, se trouxermos o vício em drogas para o primeiro plano do atendimento de saúde nos grandes países, então nós conseguiremos um verdadeiro progresso na coibição do consumo."


Tradução: George El Khouri Andolfato


Fonte: The New York Times

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