Uso responsável do prontuário eletrônico

Os Conselhos de Medicina têm sido instados muito frequentemente por médicos e diretores de clínicas e hospitais a manifestar-se a respeito da implantação de prontuários eletrônicos. Muitas reclamações advêm dos médicos que denunciam as direções dos hospitais que impõem a obrigatoriedade do uso deste recurso "goela abaixo", sem ouvir o corpo clínico, sem adequado treinamento, intempestivamente, de afogadilho, quase que "de um dia para outro".


Isso causa sérios distúrbios nos atendimentos, atropelos e, em última análise, prejuízo aos pacientes com aumento do risco. Insurgem-se com o tempo demasiado longo despendido para compor o prontuário com história clínica, diagnóstico, evolução, prescrição e demais informações necessárias, além de ter que certificá-las com senhas e assinaturas digitais. Gasta-se um tempo desmedido. O sistema às vezes não funciona, "trava", perde-se todo o trabalho e tem que recomeçar. Há situações em que não se consegue prescrever o que se deseja porque não está previsto no sistema ou a informação não é reconhecida pelo programa. Perde-se mais tempo para preencher o prontuário do que para examinar o paciente e até mesmo para realizar algum procedimento.


Por outro lado, reclamam os administradores da falta de colaboração dos médicos e dos funcionários, que boicotam o sistema, não se esforçam para treinar e resistem a mudanças.


Ninguém discute que a informática veio para facilitar a vida das pessoas. Se está atrapalhando é porque há algo errado. Ou o programa não é adequado, ou os equipamentos são obsoletos, ou a implementação está se dando de forma atabalhoada.


Uma vez operando todo o projeto cuidadosamente planejado, com tempo suficiente para treinamento - tanto dos médicos quanto do pessoal paramédico, funcionários de apoio e administrativo, com disponibilização de técnicos em todos os setores diuturnamente -, devem ser realizadas simulações das mais diversas e frequentes situações que ocorrem nos hospitais. Isso desde a chegada do paciente, seu primeiro atendimento, a internação, as prescrições e sua dispensação pela farmácia, avaliação do tempo gasto para estas providências e quais problemas ocorrem. Ao mesmo tempo, devem coexistir as formas tradicionais de prontuário em papel para que não haja aumento do risco ao paciente e não se retarde a administração dos cuidados e medicamentos.


Há que se ter clareza que o objeto de todo o nosso trabalho é a segurança e o bem-estar do paciente. E isto se concretiza com adequadas condições de trabalho de toda a equipe. Portanto, a desejada e bem-vinda implantação de prontuário eletrônico deve ser pactuada, discutida e customizada, envolvendo os agentes cuidadores, para tornar mais eficientes os serviços disponibilizados, com ganho de qualidade em benefício de todos.




Artigo escrito por Desiré Carlos Callegari (titular) e Renato Françoso Filho (suplente), representantes do Estado de São Paulo no Conselho Federal de Medicina.

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