Voto consciente

Faz poucos dias, em 7 de setembro, comemoramos mais um aniversário da independência do Brasil. Considerando o momento que atravessamos e a proximidade das eleições, vale parar e refletir sobre o passado, presente e o futuro. Comecemos pelo lado bom; somos referência em diversas frentes, como o futebol, vôlei, carnaval, potencial turístico, só para citar algumas.


Porém, temos aspectos negativos. Somos campeões em abusos dos direitos humanos, em violência, na diferença social, em impostos e juros exorbitantes. Atualmente lideramos até, pasmem, o ranking de faculdades de medicina - são nada menos do que 156. Já ultrapassamos os Estados Unidos e inclusive a China, que tem cerca de 1,5 bilhão de habitantes.


Em outras profissões a abertura indiscriminada de novas faculdades também configura grave problema, particularmente no setor privado. O fato é que o aparelho formador confunde quantidade com qualidade. Para piorar, falta o necessário investimento em áreas como a saúde, educação, segurança, habitação e assistência social. Falta a injeção de verbas séria e bem estudada com a devida valorização de recursos humanos.


Rever valores significa melhor remuneração, mas, ao mesmo tempo, educação continuada, treinamento, boas condições de trabalho, plano de cargo e carreira. Enfim, há muito a fazer para enterrar o perfil assistencialista do estado; e para oferecer aos trabalhadores possibilidades concretas para a prestação adequada de serviços e à população condições de desenvolvimento digno.


É vergonhoso saber que faculdades de medicina são criadas, todos os dias, sem a necessidade social e sem recursos mínimos, como hospital-escola e preceptoria. Fica a impressão de que o lobby dos empresários faz o que quer com o aval governamental. Inventam pseudocursos médicos de três anos, criam facilidades para revalidação de diplomas de formados na Bolívia ou em Cuba e por aí vai.


Enquanto isso, o financiamento à saúde continua pífio. Na América do Sul, investimos menos do que a Argentina, Chile, Uruguai e outros. O Brasil gasta ao ano míseros R$ 360,00 por habitante.


Não podemos negar avanços na gestão do SUS. O Estado de São Paulo é exemplo, mostra sempre resultados. No entanto, para uma virada importante, precisamos gastar mais com a saúde dos cidadãos.


Podemos citar dezenas de problemas, como a falta de boas normas para o setor suplementar, a corrupção e seus sanguessugas, e até a desilusão da população com a classe política. Aliás, é grande a chance de recorde de votos nulos, especialmente para o Congresso.


Chegamos ao fundo do poço? Não, e nem chegaremos, pois somos um povo obstinado. Temos consciência de que o Brasil necessita de justiça social, de desenvolvimento e lutaremos até chegar lá.


Um bom caminho é acabar com essa história de voto nulo, é apostar no voto consciente. É votar em pessoas com passado coerente e presente de luta pela melhoria da saúde e do País. Com a crescente capacidade de indignação e de organização da sociedade civil, vamos, certamente, mudar a cara do Brasil. Isso já aconteceu em outros países e este é o nosso momento de consolidar a verdadeira independência e de ensinar aos nossos filhos que bom é ser honesto, justo, ético e solidário. Feliz eleição e bom futuro a todos nós.



Jorge Carlos Machado Curi é presidente da Associação Paulista de Medicina

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