Zika vírus e a comunidade

Alceu Fontana Pacheco Júnior

O Aedes aegypti é um mosquito originário da África, hoje disseminado por todo o mundo, sendo o veiculador preferencial dos arbovírus (vírus veiculados por artrópodes) da família flaviviridae. No início do século passado, tivemos sérios problemas com a Febre Amarela (um dos flavivírus) no Rio de Janeiro, o que foi contornado com a enérgica e incompreendida intervenção de Oswaldo Cruz e seus batalhões de Mata-mosquitos, que conseguiram conter a perigosa epidemia. Em 1955 este inseto foi considerado erradicado do Brasil. Não demorou muito sua reintrodução. Como na ocasião, a febre amarela tinha comportamento silvestre, este fato passou despercebido até 1981. Nesta ocasião, constatou-se um surto de dengue (também flavivírus) em Boa Vista, capital do estado de Roraima. Os técnicos da Sucam (Superintendência de Campanhas de Saúde Pública), inicialmente consideraram que o vetor seria do gênero Haemagogus, transmissor silvestre da febre amarela, sendo que posteriormente, constatou-se tratar-se do velho conhecido Aedes aegypti. A partir daí, em anos mais recentes, temos tido epidemias sequenciais de Dengue, com seus quatro subtipos. Não mais se logrou controle do vetor.

Nos últimos dois anos, duas novas flaviviroses vieram habitar estas plagas, com veiculação através do mesmo Aedes aegypti: Chikungunya e Zika. Podemos considerá-las viroses emergentes, com sintomatologia parecida com dengue, sendo o quadro clínico mais brando. O problema mais recente é relativo à Febre Zika, virose originária de Uganda e provavelmente introduzida no Brasil durante a Copa do Mundo no ano passado, com sintomas mais brandos e aparecimento de exantema pruriginoso como uma das principais características. O surgimento de uma incidência aumentada de casos de microcefalia, inicialmente em Recife, fez com que o Ministério da Saúde decretasse uma situação de emergência em Saúde Pública, quando se detectou a vinculação da microcefalia à ocorrência de infecção por Zikavírus durante a gestação.

O problema está posto, visto ser uma questão de tempo este vírus tomar assento a bordo do Aedes aegypti. Nossa alternativa, diante da impossibilidade de eliminação deste vetor, é limitá-lo ao menor número possível e evitar contato, recomendação particularmente importante às gestantes e mulheres com possibilidade de gestação.

Até agora, todas as tentativas de erradicação do Aedes aegypti foram infrutíferas; é um mosquito extremamente adaptado ao meio urbano, que procria em qualquer recipiente que possa acumular água; os ovos ficam viáveis de um ano para outro e quando entram em contato com a água, eclodem e geram mosquitos adultos em torno de sete a dez dias. Só uma grande mobilização de toda a sociedade será capaz de obter êxito no controle deste grande inimigo da saúde pública.

Artigo escrito pelo médico infectologista e conselheiro do CRM-PR Alceu Fontana Pacheco Júnior.

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