16/04/2019

Patologista nascido em Paranavaí trabalha pela cura do câncer em centro de pesquisas nos EUA

Formado pela UFPR, o Dr. Jorge Sergio Reis Filho lidera Serviço de Patologia Experimental em Nova York. Em 2014, foi apontado como uma das mentes científicas mais influentes do mundo por renomada publicação

A união de interesses - à primeira vista, distantes - pela Medicina e pela Matemática e Engenharia tem conduzido o médico patologista Jorge Sergio Reis Filho (CRM-PR 17.437) a uma trajetória de muitas conquistas na pesquisa contra o câncer. Natural da cidade de Paranavaí, região Noroeste do Estado, Dr. Jorge é, atualmente, chefe do Serviço de Patologia Experimental do Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em Nova York, onde lidera um grupo de pesquisas em alterações genéticas causadoras de tumores raros e na análise da heterogeneidade genética em tumores.

clique para ampliarclique para ampliarDr. Jorge Sergio Reis Filho é o primeiro personagem da coluna "Médicos Paranaenses pelo Mundo" (Foto: Divulgação MSKCC)
Filho do médico Jorge Sergio Reis (CRM-PR 3.076) e da bioquímica Carmem Dal-Prá Reis, ele, que comemora o seu 44º aniversário neste 16 de abril, já passou por três países e dois continentes desde que finalizou a residência médica em Patologia pelo Hospital das Clínicas da UFPR, em Curitiba, no ano de 2001, em uma intensa carreira profissional.

Sua luta especial no tratamento de câncer começou a partir de experiências ainda no âmbito familiar, já que os avôs maternos foram acometidos pela doença. Em 1997, um ano antes de concluir a graduação em Medicina, ele já dedicava especial atenção ao avô, ex-prefeito de sua cidade natal e também deputado constituinte, que lutaria por 17 anos contra um câncer. A avó mereceu os cuidados por oito anos, por causa de câncer de mama.

Medicina e Engenharia: duas paixões

“Minhas duas paixões eram a Engenharia e a Medicina”, lembra o pesquisador do momento em que precisou optar por uma das carreiras na época do vestibular. Na dúvida, prestou as provas para os dois cursos, mas acabou passando “apenas” em Medicina pela UFPR. Ainda assim, tentou durante um ano e meio conciliar o curso de Medicina com o de Química Industrial pela PUCPR.

A indecisão sobre qual área seguir terminou ao conhecer a Patologia. “Foi quando descobri que poderia fazer as duas coisas de que mais gostava juntas”, recorda. O primeiro contato com a disciplina na universidade foi com o professor Dr. José Fillus Neto, especialista em Citopatologia. A partir de então, seu foco ficou completamente voltado para a pesquisa nesse segmento.

Ainda na universidade, foi estagiário no laboratório de outro professor, Dr. Luiz Fernando Bleggi Torres, também patologista. No quinto ano de faculdade, conseguiu sua primeira oportunidade fora do País. “Queria fazer coisas relacionadas a genética e patologia e apareceu essa oportunidade em um novo centro de patologia molecular, em Portugal”, ele lembra. Entre o grupo de pesquisadores que estava atuando naquele país figurava o médico gaúcho Fernando Schmitt, do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto.

Na volta ao Brasil, terminou a faculdade de Medicina e, na sequência, iniciou residência em Patologia no Hospital de Clínicas, em Curitiba. Assim que finalizou a especialidade, retornou a Portugal para um programa de estudos de um ano e meio (fellowship) e, logo depois, conquistou uma bolsa de estudos para financiar seu doutorado, dessa vez, na Inglaterra.

Período na Inglaterra

“Foi quando minha carreira, de fato, se transformou”, acredita. Ao longo dos 11 anos em que viveu naquele país, Dr. Jorge passou de estudante de doutorado do Institute of Cancer Research, em Londres, a líder do time de patologia molecular e, depois, em 2010, a professor catedrático. Ainda no ano de 2010, recebeu dois prêmios que projetaram sua figura no meio acadêmico: o Ramzi S. Contran Cientista Jovem da Academia de Patologia dos Estados Unidos e Canadá (United States and Canadian Academy of Pathology) e o Líderes do Futuro, do Cancer Research UK. “Claro que esses prêmios ajudaram a projetar minha carreira, mas a grande verdade é que foram o resultado de muito suor, lágrimas e horas de laboratório combinados à contribuição de pessoas brilhantes as quais tive o privilégio de liderar”, pondera.


Ao longo desse caminho, o médico pesquisador acredita que sua formação em Medicina pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), há exatos 20 anos, garantiu-lhe uma base teórica robusta e uma forma de atuar diferente dos colegas de outras nacionalidades. “A forma como aprendi Medicina no Brasil é muito diferente da forma que se ensina na Inglaterra, em particular na área da Patologia”, explica. A falta de tecnologia era, em muitos casos, superada com uma teoria mais aprofundada dos assuntos, a necessidade de adaptar métodos para resolver as questões científicas e de saber diagnósticos diferenciais prontamente.

Mudança para os EUA

clique para ampliarclique para ampliarDr. Jorge lidera grupo de pesquisas no Memorial Sloan Kettering Cancer Center, em Nova York (Foto: Divulgação MSKCC)
Desde 2012, Dr. Jorge aceitou o desafio de chefiar a Patologia experimental do Memorial Sloan Kettering Cancer Center. Atualmente, lidera uma equipe de pesquisadores de várias partes do mundo, entre, eles, a médica curitibana Ana Paula Martins Sebastião (CRM-PR 15.282), especialista em Citopatologia, que está passando por um estágio em seu laboratório.

“Meu trabalho é focado em entender qual a base genética de tipos especiais de câncer”, ele explica de forma didática. Seu time desenvolveu vários métodos para identificar as alterações genéticas que levam ao desenvolvimento de células doentes. Com a identificação da base genética desses tumores raros, é possível chegar a formas de tratamento para os pacientes, assim como descobrir e identificar uma nova categoria de genes que estão relacionados ao câncer.

Outra linha desenvolvida em seu laboratório é a heterogeneidade genética dentro do próprio tumor. Para seu estudo, desenvolveu uma tecnologia específica, o sequenciamento de células individuais, que pode ser aplicada a material histológico de rotina, e vem desenvolvendo novos métodos para a chamada biópsia líquida, exame que identifica sinais da doença por meio de amostras de tecido biológico não sólido, especialmente o sangue.

“Descobrir coisas novas e a razão por que acontecem me deixam acordado à noite e me fazem levantar da cama pela manhã”, resume sua paixão pelo que faz.

Família e distância do Brasil

clique para ampliarclique para ampliarDr. Jorge é casado com a bioquímica alemã Britta Weigelt e juntos têm o pequeno Luca, de quatro anos (Foto: Arquivo pessoal)
Desde que saiu permanentemente do País, em 2001, Dr. Jorge tenta manter seus laços por meio do contato com a família e por meio do trabalho. “Minha mãe, por ser bioquímica, tem um interesse muito grande nas pesquisas que desenvolvo”, conta. Além disso, ele explica que possui projetos no Brasil, estando envolvido em um grupo de trabalho em São Paulo para o desenvolvimento de pesquisa genômica de precisão.

Mas a distância é muito grande, admite. “Tento fazer minha parte em contribuir com o Brasil trazendo estudantes brasileiros para o meu laboratório, participando de projetos e fazendo palestras”, exemplifica. A influência brasileira também aparece na educação do filho de quatro anos, Luca Ernst Reis-Weigelt, que já fala muitas coisas em português: “Eu só falo português com ele.”

Casado com a bioquímica alemã Britta Weigelt, diretora do laboratório de pesquisa em tumores ginecológicos do mesmo centro em que trabalha, Dr. Jorge divide com a esposa e os demais pesquisadores da instituição o desejo de prosperar na busca por formas de se curar o câncer.

Na última década, as suas visitas à família na cidade natal têm sido discretas. Um pouco pela projeção internacional de seu nome, com os prêmios recebidos e ainda a nomeação, em 2014, como “uma das mentes científicas mais influentes do mundo pela Thomson Reuters” e o título, no ano seguinte, de integrar o seleto grupo dos 100 pesquisadores mais importantes do mundo. No início de 2016, o Diário do Noroeste publicou em destaque material jornalístico sobre a trajetória do ilustre paranavaiense.

A mãe, Carmen Dal-Prá Reis, relata com orgulho a trajetória do Dr. Jorge Filho, em especial por sua visão humanista, por sua dedicação e amor ao próximo. Recorda que seu pai, Dionísio Assis Dal-Prá, um dos pioneiros de Paranavaí, contou sempre com especial carinho do neto ao longo de sua enfermidade. “Poucos meses antes da perda do meu pai, falecido em maio de 2014, ele fez uma visita e passou uma semana com o avô, até dormindo ao lado dele e de mãos dadas. Muito carinhoso e até hoje usa as mesmas frases do avô”, conta Carmen, reforçando a dedicação também dispensada à avó no período de em que esteve em tratamento.

Sobre o longo período de convivência com doença na família, a mãe do cientista reconhece que “foi uma vida de sacrifício, mas que tudo está bem resolvido em nossas mentes”. E realça: “Meu filho diz que veio para essa vida para ser um sacerdote da ciência e não para juntar bens. Atende muitos casos, pessoas que me contatam aqui no Brasil; não admite sequer que perguntem quanto é. Ele é uma alma generosa. Para nós, motivo de muita alegria.”

O Dr. Jorge tem um irmão, Guilherme, que a seu exemplo e dos pais, também se formou pela Universidade Federal do Paraná. Guilherme cursou Direito e integrou a Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional, estando atualmente na França. O pai, que se formou em 1971, integra a Unimed Paranavaí.
clique para ampliarclique para ampliarReferência ao médico brasileiro em publicação internacional. (Foto: Reprodução)

Novos desafios e projetos

Ao longo de seu caminho fora do Brasil, Dr. Jorge acredita que o maior desafio que enfrentou foi aceitar e se adaptar às novas culturas. “Tive de aprender a identificar quais elementos de minha formação, enquanto brasileiro, eram úteis em uma cultura diversa, para então, usar as coisas boas que trazemos e combiná-las com os novos elementos; mas isso não vem naturalmente”, explica.

Para o futuro, ele deseja que o câncer passe a ser considerado uma doença curável ou, “na pior das hipóteses”, uma doença crônica. “Meu maior desejo é poder ver a Medicina para pacientes com câncer guiada mais por princípios biológicos do que por empirismo”, afirma, sonhando ainda mais alto: “Nosso intelecto é uma coisa tão bonita e há tanto por se atingir ainda, que acredito que chegaremos num momento em que as pessoas não precisarão mais ter medo dessa doença.”

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